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Parabéns: Rafael Fernandes comemora hoje 52 anos de emancipação política



Parte da Av. Egídio Chagas


O município de Rafael Fernandes localizado na região do Alto Oeste Potiguar e distante 435 km da capital do estado Natal, comemora hoje 52 anos de emancipação política

Praça localizada na Av. Egídio Chagas


No princípio o verbo era Varzinha, que pelos pincéis do criador, se desenhou numa paisagem colorida pelo verde da esperança, o verde das campinas planas às margens de um rio chamado: Apodi Mossoró, que em época de enchente é inundada com as águas claras a espelhar as beleza de suas terras.

VARZINHA tornou-se o mais novo rebento deste chão nordestino. A pouco mais de 52 anos antes, fora desbravado por homens boiadeiros, que ao toque do seu berrante, seguiam na descoberta de novas terras pelas rotas (estrada) das boiadas ao se deslocar vagarosamente pelo sertão adentro.

Bem aventuradas rotas!!! rotas de nossa origem, rotas registradas por Câmara Cascudo como uma reminiscência das estradas de penetração povoadoras, rotas que atravessam os sertões oestanos e que na variante de Pau dos Ferros (velhíssimo rancho de comboieiros e tangedores de gado, até chegar em Alexandria) nos constituí como um povo.
Nesse percurso, ao passar por aqui, nossas várzeas seduziam, enchiam os olhos de desejos daqueles viajantes, daqueles posseiros, bandeirante colonizador, que, além da fazenda, dos currais e da capelinha, denunciadora do espírito de fé e religiosidade, implanta os fundamentos de uma organização familiar com a fixação do seu domicílio.

Nossa história, gente! Foi uma história de uma terra “de amor à primeira vista”. Os encantamentos dos olhos dos boiadeiros de estradas, às terras verdes que descansava o gado, próximos às lagoas, embaixo de grandes oiticicas, cajazeiras ou Jucá, já traduziam o encantamento de nossa fé através dos olhos.

Igreja Matriz de Santa Luzia (padroeira do município)


Fé e tradição!! Não podemos negar, nas narrativas de nossa história, a forte influência religiosa no povoamento de nossa terra. Foi em 1917, que a senhora Umbilina Maria da Conceição – filha de Francisco Martins de Oliveira – motivada pela fé, ao compadecer de um problema de saúde nos olhos, elevou sua prece à santa protetora da vista: Santa Luzia.

Oh Umbilina!!! Sua prece ecoou aos quatro cantos da região como um sinal de fé, de resistência de um povo forte que não perde jamais a esperança, e com o olhar da fé, descobre neste ato, a grandeza do celebrar em mutirão, pois a promessa de Umbilina resultou no celebrar de um novenário em sua residência no período de 04 a 13 de dezembro.

Com muita festa, a primeira novena foi celebrada na casa de Francisco de Oliveira Filho, irmão de Umbilina. E assim, em cada mistério, cada terço, em cada oração, entre lamparinas e lampiões, acendia cada vez mais a fé de um povo de Deus. Tal atividade abriu caminhos para crescentes visitas e estadia em nossa terra pelo povo da região. Somos então, povo hospitaleiro na fé.

Somente em 1943, a comunidade Varzinha, já mais desenvolvida, e através do senhor José Silva de Oliveira (mais conhecido como Zequinha, dono de farmácia e pai do ex-prefeito Nilton Silva) e Maria Alzira Pinheiro, nos despretensiosos jogos de “Sueca” externaram a Francisco de Oliveira Filho a necessidade de se construir uma capela, para melhor acomodar as pessoas que a cada ano vinham participar do novenário.

Em face desse desejo de se construir um templo, Francisco Oliveira Filho se propôs a doar 04 (quatro) tarefas de terras para ser feita a capela. Diante desta doação, José Silva de Oliveira entrou em contato com o padre Manoel Caminha Freire que marcou data para a celebração de uma missa, com o fim de sentar a pedra fundamental para a construção da capela, símbolo de uma religiosidade marcada na história desse povo.

A missa ocorreu 1944 na casa de José Ferreira da Costa, nesta época, morava o seu vaqueiro João Carlos (ou João Carro). Após, saíram em caminhada para sentar a pedra fundamental no local onde se encontra atualmente construída a capela de Santa Luzia.

A construção da referida capela foi feita à base de mutirão, foram muitas as mãos calejadas pelo trabalho, mas abençoadas pela fé, que ergueram a capela de Santa Luzia. Várias pessoas doaram materiais e outros à força do trabalho. Citamos o nome de algumas pessoas que muito contribuíram para a sua construção e se mantiveram na memória coletiva e em registros: Francisco de Oliveira Filho pela doação do terreno, José Silva de Oliveira (Zequinha) pela iniciativa da construção da capela, Egídio Chagas do Nascimento, Luiz Chagas do Nascimento, Chicó Alfredo, João Felipe de Oliveira, Sebastião José de Oliveira e Olímpio Mariano da Costa (Olímpio Joca), pelo trabalho voluntário.

Destacamos, ainda, Agostinho Ventura que doou toda a madeira, que encontrava no sítio Balanço, sendo as mesmas retiradas por João Felipe de Oliveira e Sebastião José de Oliveira, merece destaque também Adalto Lopes que doou os carros de boi para o transporte da referida madeira.

Ressaltamos também a contribuição de Adelino Aires que doou uma madeira de 54 palmos para a confecção do coro da capela, bem como, o sino sendo o mesmo confeccionado por seu irmão na cidade de Mossoró/RN. Não poderíamos deixar de lembrar também dos trabalhos realizados por Francisco Silvino da Costa (Silvino Lagoa) e Adalto Maia da Costa, que também contribuíam para a construção da capela de Santa Luzia e de tantas outras pessoas que, devido à falta de registros históricos, não podemos mencionar aqui, mas sabemos que o anonimato merece também nosso reconhecimento.

Antônio Justino de Oliveira (primeiro prefeito do município)


No ano de 1953 – é Aprovada a Lei nº 56, de 21 de dezembro de 1953 que elevou o Povoado de Varzinha a categoria de Distrito, com o nome Rafael Fernandes. Projeto de autoria do Deputado Estadual Israel Ferreira Nunes. O Governador á época era Silvio Pisa Pedrosa. E é somente, com uma década depois, 21/10/1963 - Aprovada a Lei nº 2964 de 21 de outubro de 1963 cujo Projeto de Lei foi de autoria do Deputado Estadual Israel Ferreira Nunes. O Governador á época era Aluísio Alves.

Rafael Fernandes Gurjão natural de Pau dos Ferros,
nascido a 24/10/1891 e falecido em 11/06/1952.


Portanto, hoje, dia 21 de outubro, nossa cidade completa 52 anos de emancipação política. E durante todo esse tempo, nosso pedaço de chão, no germinar de tantos filhos, nos nutriu também como filhos seus, nos batizou, consagrando-a como nossa terra, nos colocando como parte dessa história, porque em seu barro fomos moldados.

Escola Estadual Mano Marcelino ( década de 1950)


E no lugar de filhos dessa terra, cabe aqui dizer, que a nossa cidade, com o nome oficial de Rafael Fernandes, ensinou-nos acima de tudo, a amar-lhe com o coração. Poderíamos aqui ter falado somente sobre o ponto de vista de estatísticas, dados, números. Mas buscamos, acima de tudo, falar de Rafael Fernandes com o coração tecido pelo contar de quem por aqui viveu e vive, pois o coração prefere sempre, aceitar a linguagem da emoção. Falamos de Rafael Fernandes com a intimidade de quem com ela convive desde a primeira infância. Aqui fixamos nossas raízes. Aqui é o nosso pedacinho de chão, que cativamos o amor e as experiências de uma vivência em comunidade.

Hospital Maternidade Maria Firmina de Castro ( Ano desconhecido)


Rafael Fernandes!! Nossa intimidade, nossa cumplicidade, está em nosso cotidiano, sempre em comum aos seus conterrâneos.  Crescemos, em sua grande maioria, todos juntos, vivemos nossa meninice, nossa adolescência, nossa mocidade. Tempo o suficiente para criarmos raízes e exercermos nosso patriotismo.

Antiga Banda de Música do Município (Década de 1980)


Patriotismo, a começar em casa. O amor à nossa Rafael Fernandes começa na relação com nossos pais, com nossa família. É lá, que aprendemos a respeitar nossas tradições, nossos personagens, símbolos, nossos a devoção às coisas populares. Tudo isso, constitui nossas lembranças e se eternizam em nossas mentes como feito cultural.

Praça da Matriz ao fundo antigo Mercado Público (Anos 90)


Nosso amor a nossa cidade, tem sua raiz fincada no terreno de nossas vargens, do rio Apodi Mossoró, que nunca se cansa de cumprir seu destino; do som do sino que toca a nossa fé; de nossa gente que trabalha, mas que mantém a cultura de sentar e conversar, socializando seus dias, com suas cadeiras arrumadas nas calçadas nos fins de tarde!

Pátria pra nós, tem no seu primeiro nome Varzinha...hoje...Rafael Fernandes. Por isso, ao homenagear nossa querida cidade, no aniversário de 52 anos de sua fundação, queremos aqui honrar a nossa cultura e as tradições que resistem em suas diversidades aos inúmeros desafios. Honrar a nossa gente simples, mas hospitaleira desde a origem e que de coração aberto, se entrega ao espírito comunitário.

E para não dizer que não falei dos espinhos, a nossa cidade, como todas as outras, tem suas contradições sociais, o que desafia nosso amor, o nosso patriotismo, nossa capacidade política de traçar caminhos, de lutar constantemente, no dia a dia por uma cidade melhor.

Acreditamos em Rafael Fernandes, como acreditamos em nós mesmos: ela é nosso abrigo, o lugar onde reconhecemos nossos semelhantes, onde nos olhamos como irmãos e onde nos sentimos em casa. E nessa relação de família, apesar dos confrontos existentes, apesar dos muitos desafios, devemos entrar na briga e entre dores e alegrias, viver a nossa RAFAEL FERNANDES.

Parabéns Rafael Fernandes pelos seus 52 ANOS.



Da redação com José Gevildo Viana


Fonte: Escritos de Alex Maia, Imagens: Arquivo