Plasma de paciente curado tem sido utilizado em tratamentos - Foto: Mauricio Bazilio / SES |
Pesquisadores do Instituto de
Medicina Tropical (IMT) da UFRN vão iniciar nesta semana testes com o uso de
plasma sanguíneo (a parte líquida do sangue) no tratamento de casos graves do
novo coronavírus no Rio Grande do Norte. A experiência do IMT - que já acontece
de forma semelhante em outros estados do Brasil - teve aprovação da Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) no domingo (7).
Essa pesquisa se baseia na
transfusão de sangue de uma pessoa que já foi infectada e está curada do
coronavírus para um paciente que está em tratamento da Covid-19. "O
princípio é que se uma pessoa é infectada por um determinado microorganismo,
principalmente um vírus, ela monta uma resposta de defesa que pode ser de dois
tipos: alguns tipos de célula de defesa e também por anticorpos", explicou
a médica Selma Jerônimo, diretora do Instituto de Medicina Tropical.
Para realizar esses testes,
portanto, é necessário que haja um doador de sangue que tenha sido infectado
pelo coronavírus e esteja recuperado há pelo menos 30 dias. "Nesse plasma
específico tem o anticorpo contra o vírus. E pode ser que tenha o anticorpo
neutralizante, que auxilia a bloquear alguns demarcadores inflamatórios, que
também são importantes para aumentar a doença. Então, a ideia é diminuir a
quantidade de vírus, mas também diminuir algumas das substâncias que causam a
inflamação", explicou a médica.
A pesquisa no IMT acontece em
parceria com o Hemonorte, que será responsável pela coleta de sangue. Os
hospitais que também vão participar dos testes são o Hospital Universitário
Onofre Lopes, Hospital do Coração, Hospital Rio Grande e Giselda Trigueiro. O
procedimento só acontecerá, no entanto, em pacientes que se dispuserem a ser
voluntários.
A médica explica que há esse
subtipo de anticorpo chamado de neutralizante "tem uma característica
extremamente importante, porque ele se liga ao microorganismo e facilita a
limpeza desse organismo e o tecido do sangue".
"Em algumas doenças, às
vezes o microorganismo é importante, mas também a resposta inflamatória do
hospedeiro, porque ele auxilia a resposta inflamatória e isso permite com que
haja a melhora clínica", falou.
Tratamento
Esse tipo de tratamento é feito
para pacientes de casos graves do novo coronavírus. "A maioria que tem
infecção leve consegue resolver sem grandes problemas. Exceto uma ou outra
medicação que precisa ser feita, essa maioria responde bem. O subgrupo que
realmente fica grave precisa de uma terapia adicional", explicou a
pesquisadora Selma Jerônimo.
Não basta apenas ter tido a
Covid-19 para que o plasma sanguíneo tenha efeito. Após os 30 dias de
recuperado da doença, é necessário que haja um bom nível de anticorpos no
sangue para que o plasma sirva no tratamento - isso será analisado em exames,
caso o doador se apresente como voluntário.
A doação, por sua vez, é feita de
forma tradicional, mas com menos efeitos colaterais. "O plasma é filtrado
e as células são devolvidas ao doador. Nessa doação, apenas o plasma é
retirado, então a pessoa não fica com anemia, nem nada".
Entre os novos exames de testagem
para o coronavírus e a coleta de sangue, essa primeira etapa do processo dura
entre três e quatro dias. A partir daí, esse plasma poderá ser usado em um
paciente voluntário.
Histórico do tratamento com
plasma
Os tratamentos com o plasma
sanguíneo já foram utilizados em epidemias recentes de vírus como Ebola (em
2014), a Mers-Cov (em 2012), influenza H1N1 (2009 e 2010), além da Sars-Cov-1,
outro tipo de coronavírus (2003). Esse tipo de procedimento aconteceu ainda
durante a Gripe Espanhola, há mais de 100 anos.
Recentemente, países do mundo
passaram a testar esse mesmo tratamento em casos do Sars-Cov-2, o novo
coronavírus. Estudos em países como China e Estados Unidos apontaram a melhora
de pacientes que receberam a transfusão do plasma de alguém recuperado do
coronavírus.
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