O avanço da variante Ômicron já
causa uma explosão de casos e internações no Brasil. Números do Observatório
Covid-19/Fiocruz atestam que em sete unidades da Federação a ocupação dos
leitos de UTI Covid-19 ultrapassa 80%.
Para especialistas, o momento é
de preocupação e de reavaliar as medidas de prevenção e de restrição de
aglomeração.
Sobre a ocupação dos leitos de
UTI destinados à doença, os números da Fiocruz mostram que o percentual está
acima de 80% no Distrito Federal, Espírito Santo (80%), Goiás (82%), Mato
Grosso do Sul (80%), Pernambuco (81%), Piauí (82%) e Rio Grande do Norte (83%).
Em São Paulo, é de 65% no estado
e de 71% na capital (dados de ontem). No Rio, a situação é um pouco mais
preocupante: 62% no estado, mas 96% na capital.
“Não é a mesma situação que
tivemos há um ano. Hoje, o número total de leitos é muito menor que em agosto.
Além disso, tenho muita fé na vacina, não acredito que vamos reviver o que já
vivemos, com pessoas chegando aos hospitais sem respirar, praticamente mortas”,
afirmou a pesquisadora Margareth Portela, do Observatório Covid-19/Fiocruz.
“Mas não dá para menosprezar que existe um crescimento e que seguimos vivendo
como se não houvesse uma pandemia; as pessoas estão tratando isso como se fosse
uma ‘gripezinha’, e não é. Precisamos de novas medidas.”
SRAG
Além disso, o novo Boletim
Infogripe Fiocruz mostra que 25 das 27 unidades da Federação apresentam
tendência de crescimento de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave)
nas últimas seis semanas. Nas capitais, 23 das 27 apresentam igualmente sinal de
crescimento.
“Certamente estamos vivendo uma
explosão de casos da Ômicron, e isso já era mais ou menos esperado pelo que
acompanhamos no restante do mundo. A variante é dos vírus mais infecciosos de
que se tem notícia”, afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia,
Flávio Guimarães, pesquisador da UFMG.
“Acho que o momento é de
repensarmos algumas estratégias. Não acho que seja necessário um lockdown, mas
não é possível seguir com o processo de abertura.”
Transmissão
O Imperial College de Londres,
referência em análise da crise sanitária, mostrou nesta terça-feira que a taxa
de transmissão (Rt) no Brasil está se expandindo e já é a maior desde julho de
2020: 1,78.
Isso significa que cada 100
pessoas contaminadas infectam outras 178. Na semana passada, esse indicador
estava em 1,35 – após os números ficarem quase um mês sem ser calculados, pelo
apagão de informações no Ministério da Saúde. Somente quando esse índice fica
abaixo de 1 é possível dizer que a doença está arrefecendo; agora, está
acelerando.
“É descontrole total”, diz a
integrante do Comitê de Combate ao Coronavírus da UFRJ e especialista em gestão
em saúde Chrystina Barros. “Nosso modelo matemático baseado exclusivamente na
taxa de transmissão indica lockdown, mas isso, por si só, não é suficiente. De
qualquer forma, há outras medidas a serem implementadas, como a obrigatoriedade
do uso de máscara em espaços abertos, restrição do número de pessoas em locais
fechados e também no transporte público. Não dá para cancelar o Carnaval e
manter o Maracanã com 50 mil pessoas.”
Risco futuro
Segundo especialistas, a situação
atual só não é mais grave por dois motivos. Um é que a Ômicron é aparentemente
menos virulenta que suas antecessoras. Outro – sobretudo – é o fato de o vírus
agora se espalhar por uma população já amplamente vacinada. Por isso, o número
de casos graves e mortes não cresceu na mesma proporção que o número de novas
infecções.
A quantidade de pessoas vacinadas
com ao menos uma dose contra a Covid-19 no Brasil chegou nesta terça-feira a
163.389.955, o equivalente a 76,06% da população total, e 148,5 milhões
receberam a segunda dose ou um imunizante de aplicação única, o que corresponde
a 69,15%.
Mas, se a disseminação do vírus
se mantiver nessa velocidade, poderá haver sobrecarga nos sistemas de saúde.
Existe também o risco do surgimento de uma nova variante.
“A Ômicron prevalece nas vias
aéreas superiores, não desce muito para os pulmões. Além disso, a variante é
mais suscetível ao interferon, que é uma molécula produzida pelo organismo que
ajuda no combate ao vírus. Por isso, ela não causa tantos casos graves e
mortes”, explica Flávio Guimarães. “Mas, se não limitarmos a circulação do
vírus, os casos graves e as mortes vão aparecer: é uma questão matemática. E,
se o vírus continuar se multiplicando de forma descontrolada, novas variantes
poderão surgir.”
Agora RN
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