As previsões climáticas feitas no
início do ano para o Rio Grande do Norte não se concretizaram. Dados da Emparn
apontam que, entre março e maio, choveu em todas as regiões do estado, mas bem
abaixo do esperado. No mesmo período de 2024, foram 440 mm. A estimativa para
este ano era de cerca de 382 mm no acumulado do trimestre, mas foram
registrados apenas 252 mm. Isso significa uma queda de 42% entre o que choveu
em 2025 e o que choveu no ano passado. O reflexo imediato desse cenário é a
queda no volume dos reservatórios potiguares, que terminaram maio com 50,23% da
capacidade total, índice inferior aos 61,34% registrados no fim de janeiro.
O levantamento do Instituto de
Gestão das Águas (Igarn) mostra que os 70 reservatórios monitorados somam
atualmente 2,65 bilhões de metros cúbicos de água, frente a uma capacidade
total de 5,29 bilhões. É uma redução considerável em relação ao volume registrado
no início do ano. “Os dados mostram que houve baixa recarga dos reservatórios
do Rio Grande do Norte. Quando você tem menos água, você tem que fazer já uma
gestão prioritária para alguns usos”, afirma Procópio Lucena,
diretor-presidente do Igarn.
O cenário contraria as projeções
feitas em fevereiro, quando os meteorologistas indicaram que as chuvas
ocorreriam dentro da normalidade, sem influência direta dos fenômenos El Niño e
La Niña. No entanto, a instabilidade climática acabou impondo outro caminho.
Ele relata que março até começou promissor, mas a segunda quinzena já trouxe
sinais de queda nas precipitações. “Se não chover bem em março e abril, não tem
recarga nos mananciais. E abril foi ainda pior”, relata Bristot. Para o
meteorologista, esse comportamento anômalo vem agravando a situação hídrica e
agrícola no estado.
Agora, a preocupação do Igarn é
garantir que o volume de água atual seja suficiente para atravessar o restante
de 2025 e chegar até a próxima quadra chuvosa. “A prioridade é o consumo humano
e matar a sede dos animais. Ainda estamos com um percentual razoável, se olhar
só para o momento atual. Mas, olhando para 2026, já sinaliza uma preocupação”,
alerta Procópio Lucena.
A barragem Armando Ribeiro
Gonçalves, maior reservatório do estado, acumula 60,23% da capacidade. A
Oiticica, em Jucurutu, está com apenas 14,46%. Outros reservatórios
importantes, como Santa Cruz do Apodi (66,80%), Umari (70,94%), Gargalheiras
(65,82%) e Dourado (34,68%) também não atingiram níveis que garantam a sangria
esperada.
Diante do cenário, o Igarn
destaca que a gestão hídrica será mais rigorosa. “Agora é fazer a gestão, o
monitoramento e o planejamento do uso daquilo que nós temos. Precisamos esticar
essa água ao máximo que puder para garantir as necessidades humanas e produtivas
que temos no nosso estado”, reforça Lucena. Ele também defende que é hora de
iniciar uma mobilização junto à sociedade. “Vamos fazer uma série de ações
envolvendo os municípios, movimentos sociais, nosso governo do estado, igrejas,
federações de agricultores e trabalhadores, para que todos entendam a
necessidade de usar essa água com parcimônia, sem exageros.”
Mudanças climáticas
O meteorologista Gilmar Bristot
acrescenta que o comportamento dos oceanos tem se mostrado cada vez mais
imprevisível, o que dificulta acertos nas projeções. Para ele, a dinâmica dos
oceanos tem mostrado variações mais rápidas e menos previsíveis. “Nos últimos
anos, o Pacífico perdeu um pouco o padrão e isso prejudicou o abastecimento, a
recarga hídrica e a agricultura.”
A quadra chuvosa, segundo o
especialista, já ficou para trás. “No início de junho tivemos algumas chuvas na
região Oeste, mas agora é tarde, agora não vai mudar o cenário. Então, o Estado
tem que trabalhar com a quantidade de água que tem. Vivemos em um clima
semiárido e qualquer alteração nos oceanos, pode trazer dificuldade na formação
de chuvas. Isso aconteceu esse ano, quando não tínhamos características de ano
seco”, conclui Bristot.
Fonte: Tribuna do Norte
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