Uma denúncia incendiou o mundo político nacional nesta quarta-feira (17/5) e as chamas chegaram ao Palácio do Planalto. Em uma gravação feita por Joesley Batista, dono da JBS, em março deste ano, o presidente da República, Michel Temer (PMDB), dá o aval para que o silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) seja comprado. As informações são do jornal O Globo.
Segundo a reportagem, o empresário informou a Temer que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ambos ficarem calados. Diante da informação, Temer incentivou: “Tem que manter isso, viu?”. Na conversa, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F — holding que controla a JBS, maior produtora de carne do mundo. Posteriormente, Loures foi filmado pela Polícia Federal recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley. O dinheiro seria parte da mesada.
Joesley, que está nos Estados Unidos, disse já ter pago R$ 5 milhões para Eduardo Cunha após a prisão do peemedebista. Esse valor seria referente a um “saldo” de propina. Ainda de acordo com o empresário, ele devia R$ 20 milhões pela tramitação de uma lei sobre a desoneração tributária do setor de frango.
As informações foram confirmadas, na quarta-feira passada (10/5), por Joesley Batista, o seu irmão Wesley e outros cinco executivos da JBS ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator da Operação Lava Jato na Corte. Os depoimentos, de acordo com o colunista Lauro Jardim, foram prestados à Procuradoria-Geral da República (PGR) em abril, por livre e espontânea vontade de Joesley Batista.
As pessoas ligadas à JBS estariam prestando delações premiadas para evitar eventuais prisões. Entretanto, até a madrugada desta quinta (18), nem o STF nem a PGR haviam se manifestado sobre o assunto. A expectativa é pela liberação das gravações que, além de Temer, comprometeriam outros políticos.
Protesto
Cerca de 300 manifestantes se reuniram em frente Palácio do Planalto para protestar contra Michel Temer. Eles pedem o impeachment do presidente e novas eleições.
A Polícia Militar fez uso do gás lacrimogêneo em duas oportunidades. Na primeira, afastando os manifestantes da calçada do outro lado da rua em frente ao palácio. Minutos depois, para forçar o recuo de quem protestava.
O trânsito no local ficou congestionado, e os motoristas buzinavam em apoio ao protesto. Uma pessoa foi detida por desacato e encaminhada à 5ª DP (Área Central).
“O governo Temer acabou”, diz senador da oposição Lindbergh Farias
A manifestação teve início após a divulgação do teor de uma gravação feita por Joesley Batista, dono da JBS, em março deste ano. No conteúdo, Temer dá aval para que seja comprado o silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do operador Lúcio Funaro. As informações são do jornal O Globo.
Oposição
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), que protocolou o pedido de impeachment contra Temer na Câmara na noite desta quarta (17), foi ao protesto. Ao Metrópoles, ele disse que o presidente não tem mais condições de governar o país. “Cada dia que Temer continuar no governo será pior para o país”, afirmou. Por volta das 22h30, a manifestação começou a se dispersar.
Aécio Neves
Além de Michel Temer, as gravações de Joesley também complicam a situação do senador Aécio Neves (PSDB), flagrado pedindo R$ 2 milhões ao empresário. O dinheiro teria sido entregue a um primo do tucano e a cena, filmada pela Polícia Federal.
Ainda segundo O Globo, a PF rastreou os recursos e descobriu que eles foram depositados em uma empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).
PT
Joesley relatou também que Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda dos governos Dilma e Lula, era o seu contato com o PT. Era com Mantega que o empresário negociava dinheiro de propina para ser distribuído a petistas e aliados. Mantega também operava os interesses da JBS no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Ações controladas”
Para comprovar as denúncias de Batista, a força-tarefa da Lava-Jato usou, pela primeira vez, “ações controladas”, num total de sete. A ideia era obter provas em flagrante, mas sem que a Polícia Federal efetuasse prisões naquele momento.
Dessa forma, conversas e entrega de propina foram filmadas pela PF. As cédulas tinham seus números de série informados aos procuradores e malas e mochilas estavam com chips que permitiam rastrear o paradeiro do dinheiro. Nessas ações controladas, foram distribuídos cerca de R$ 3 milhões em propinas apenas em abril. Ou seja, mesmo após todo o escândalo da Lava Jato, deflagrado em 2014, políticos — alguns inclusive já atrás das grades — continuaram recebendo dinheiro.
A expectativa, agora, é que o STF libere nos próximos dias as gravações de Joesley Batista e da Polícia Federal. Temer, Aécio e outros acusados negaram, na noite de quarta (17), qualquer irregularidade.
Metópoles via Diário do Sertão