Em meio a vegetação da caatinga,
o verde do canavial se destaca. A plantação de cana-de-açúcar fica em uma
propriedade na zona rural de Assú, no Oeste potiguar. Os dois hectares
plantados se desenvolvem de forma satisfatória. Quem teve a ideia de começar o
cultivo no Vale do Açu foi o engenheiro agrônomo Antonez Aquino.
“Não é comum no semiárido do
nordeste o cultivo de cana-de-açúcar. A gente vê nas regiões litorâneas do
estado, na Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Quando você adentra para o
sertão, você não tem um plantio de cana por causa das condições climáticas. A
precipitação anual é de 400 mm de água por ano. A cultura precisa de pelo menos
1200 mm”, explica o produtor.
Para resolver a barreira da falta
de chuva periódica e viabilizar o plantio, o canavial é irrigado diariamente
por meio da técnica de gotejamento, onde a água é aplicada de forma pontual
através de gotas diretamente ao solo.
A irrigação nas lavouras de
cana-de-açúcar ainda é pouco utilizada. Mas esse processo tem sido
intensificado nos últimos cinco anos e interfere diretamente na produção.
No Rio Grande do Norte, a média
de produtividade é de 47 toneladas por hectare - isso nas plantações de
sequeiro, ou seja, aquelas que dependem da água da chuva. Com a irrigação, essa
produtividade poderá ultrapassar as 100 toneladas.
Outro benefício da irrigação é o
aumento no número de ciclos de produção da cana. Enquanto no plantio
tradicional a planta se desenvolve por cinco anos, com a irrigação, os ciclos
podem chegar a até 12 anos para que o cultivo seja renovado.
Até o início do próximo período
chuvoso, a expectativa do produtor é ampliar a área plantada, totalizando seis
hectares de cana-de-açúcar. O que deve gerar uma produção entre 600 e 720
toneladas da matéria-prima pra cachaça. Toda a produção será destinada para a
fabricação da bebida artesanal.
As primeiras plantas devem
atingir o ponto certo para serem colhidas a partir de novembro deste ano.
Enquanto a cana não cresce, os preparativos no alambique seguem na reta final.
O maquinário para a produção da cachaça está praticamente pronto. A instalação
do alambique de cobre, fundamental na fabricação da cachaça, foi um passo
importante.
“A gente visitou vários engenhos
na Paraíba, Pernambuco e Minas Gerais. Então foram várias visitas e conseguimos
tirar o melhor de cada um para montar esse alambique aqui no Vale do Açu, bem
no coração do Rio Grande do Norte”, lembra George Darlos, sócio do projeto.
Segundo George, tudo vai
funcionar como um ciclo fechado reunindo a produção da cana-de-açúcar com a
fabricação da bebida num só lugar.
“A cana é irrigada aqui no nosso
próprio terreno e a gente tem uma característica para retirar o melhor caldo é
que a gente colhe e em menos de 24 horas é moída, fermentada e destilada no
nosso alambique de cobre. Depois que sai o coração da cachaça, as outras partes
podem ainda ser reprocessadas através da coluna de álcool e esse sub-produto se
transforma em álcool combustível. É um ciclo fechado e nada se perde. Até o
bagaço da cana, depois que a gente extrai, põe pra secar ao sol e a gente
coloca na caldeira pra gerar vapor e destilar a próxima cachaça”, diz.
A expectativa é que a cachaça
feita no Vale do Açu comece a ser vendida a partir do próximo ano. O objetivo é
ganhar o mercado mais exigente das cachaças artesanais.
“Toda nossa cachaça vai ser armazenada
por no mínimo seis meses. A gente vai trabalhar com três madeiras de
envelhecimento carvalho, uburana e jequitibá. A madeira incorpora um aroma, um
sabor na cachaça que diferencia ela, torna mais elaborado, um produto gourmet”,
revela George.
G1 RN
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