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Cenário atual é resultado da forte redução no volume de chuvas a partir de abril, após um primeiro trimestre com precipitações muito acima da média. Foto: Wilson Moreno (SECOM/PMM/Arquivo) |
O município de Mossoró enfrenta
uma quebra de safra e a situação pode piorar, segundo o professor de ciências
naturais e representante do setor de meteorologia da Secretaria Municipal de
Agricultura e Desenvolvimento Rural (Seadru), Alciomar Lopes. “Hoje já se
configura quebra de safra. Se continuar sem chuvas até o dia 15, vai passar de
80%”, disse ele. O cenário atual é resultado da forte redução no volume de
chuvas a partir de abril, após um primeiro trimestre com precipitações muito
acima da média.
“No primeiro trimestre, choveu
542,5 milímetros, quando o esperado era 343,6. Isso representa um desvio
positivo de 198,9 milímetros, ou seja, 57,9% acima do volume esperado”,
explicou Lopes. Janeiro teve um acumulado de 155,1 mm (contra 69,2 mm esperados),
fevereiro 123,5 mm (esperado 94,6 mm) e março foi o mais chuvoso, com 263,9 mm
(esperado 179,6 mm).
A partir de abril, a situação
mudou. “Aconteceu um bloqueio atmosférico proporcionado pela alta temperatura
das águas do Atlântico Norte. A zona de convergência intertropical, que deveria
estar entre o RN e o Ceará, está posicionada a 4 graus Norte, o que desfavorece
totalmente nossa região”, explicou ele, em entrevista à 95 FM de Mossoró. O
acumulado em abril foi de apenas 82,8 mm, enquanto o esperado era de 182,8 mm:
o desvio negativo chegou a exatos 100 milímetros.
Segundo Alciomar, Mossoró já
enfrenta o quarto veranico do período, com pelo menos doze dias consecutivos
sem chuva. “Não tem planta que aguente. Isso está indicando uma quebra de safra
muito elevada, principalmente para quem plantou no segundo trimestre, a partir
de março. Esse está totalmente perdido”, afirmou. Já quem plantou em janeiro,
“está colhendo, vai ter forragem, tem gente comendo pamonha, milho verde,
feijão, mas pegou o volume elevado do primeiro trimestre”.
As chuvas recentes foram
irregulares e de baixa intensidade. “No mês de abril, foram seis dias de chuva.
Tivemos chuvas de 4 mm, 5 mm. Chuva leve, mas que não sustenta lavoura se não
for constante”, explicou. Para reverter o cenário até o fim do período chuvoso,
que vai até 30 de junho, Alciomar afirma: “Tem que haver uma mudança bastante
radical na temperatura do Oceano Atlântico Norte. Ela tem que baixar pelo menos
um grau e meio”.
O professor também alertou sobre
os impactos em outras cadeias produtivas. “Vai prejudicar a produção de mel, a
produção da castanha. Qualquer cultura que dependa do período chuvoso está
muito crítico”, disse.
Em 2024, Mossoró teve recarga
recorde de reservatórios, mas a agricultura sofreu com o excesso de chuvas no
primeiro trimestre, impedindo o corte de terra. “A maior parte dos solos é
argilosa. Duas ou três chuvas fortes e o trator não consegue mais puxar a
grade”, disse Alciomar. Para monitorar melhor a zona rural, a Seadru iniciou a
instalação de pluviômetros em 25 escolas. “O projeto ajuda a programar corte de
terra, monitorar estradas alagadas e melhorar a assistência ao homem do campo.
Serve também como ferramenta pedagógica nas aulas de ciências naturais”,
detalhou.
O município já iniciou o cadastro
para o seguro-safra. “Já está começando. Hoje, já se configura perda de safra.
Se continuar sem chuvas até o dia 15, vai passar de 80%”, afirmou.
Segundo Alciomar, dados
pluviométricos estão sendo enviados ao Ministério do Desenvolvimento Agrário
com proposta de revisão dos critérios do seguro-safra. “A análise do ministério
foi feita com base no volume total de chuvas, mas o que prejudicou foi a má
distribuição. Encaminhamos relatório com os veranicos e os períodos sem chuva”,
explicou.
O monitoramento da Seadru tem se
apoiado também na instalação de pluviômetros em 25 escolas da zona rural. “Eles
permitem que a gente antecipe decisões como o corte de terra e melhorias em
estradas para evitar o prejuízo ao acesso escolar”, disse Lopes. Os dados
também são usados em aulas de meteorologia e ciências naturais.
Fonte: Agora RN
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