A Lei Magnitsky, aplicada na
quarta-feira (30) contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre
de Moraes, já foi usada contra mais de 650 pessoas, dentre eles traficantes,
assassinos e ditadores. Entre os que já estiveram entre os alvos estão nomes
como Horacio Manuel Cartes Jara, ex-presidente do Paraguai acusado de
envolvimento em esquema de corrupção, e integrantes de organizações extremistas
como o Talibã.
Também figuram entre os
sancionados o líder checheno Ramzan Kadyrov, apontado como responsável pelo
assassinato do opositor russo Boris Nemtsov, e o presidente e a primeira-dama
do Zimbábue, Emmerson e Auxilia Mnangagwa, investigados por envolvimento em contrabando
de ouro e diamantes, além do pagamento de subornos para facilitar vendas
ilícitas.
A norma acionada pelo governo do
presidente Donald Trump (Partido Republicano) autoriza os Estados Unidos
bloquear recursos financeiros e vetar a entrada de estrangeiros de qualquer
nacionalidade. A decisão foi publicada pelo Ofac (Escritório de Controle de
Ativos Estrangeiros dos EUA, em português).
A legislação está em vigor desde
2017. Ainda no 1º ano de aplicação global, o governo de Donald Trump (Partido
Republicano) sancionou 3 personalidades da América Latina: Roberto José Rivas
Reyes, então presidente do Conselho Supremo Eleitoral da Nicarágua; Julio
Antonio Juárez Ramírez, deputado da Guatemala; e, Ángela Rondón Rijo,
empresário da República Dominicana.
Todos foram punidos por
envolvimento em corrupção e violações de direitos humanos. Não há menção a
autoridades brasileiras nos relatórios anteriores divulgados pelo Departamento
de Estado dos EUA.
Em 2024, relatório divulgado
sobre sanções aplicadas com base na Lei Magnitsky apontou a inclusão de
indivíduos de 9 países. A maioria deles era de países governadores por
ditaduras ou estavam envolvidos em casos de corrupção.
Entre os alvos daquele ano
estavam autoridades de Afeganistão, Bulgária, Guatemala, Haiti, Libéria,
Paraguai, China, Rússia e Uganda.
LEI MAGNITSKY
O Magnitsky Act, aprovado em
2012, autoriza o governo dos EUA a bloquear recursos financeiros e vetar a
entrada de estrangeiros de qualquer nacionalidade. A legislação foi criada para
punir autoridades russas, mas foi ampliada para cidadãos de todos os países em
2016, com a aprovação do Global Magnitsky Human Rights Accountability Act. Eis
a íntegra (PDF – 207 kB, em inglês).
A legislação foi nomeada em
homenagem ao advogado russo Sergei Magnitsky, que expôs casos de corrupção no
governo russo. Ele foi morto em 2009 em uma prisão de Moscou. O objetivo era
punir os responsáveis pelo assassinato de Magnitsky.
Com a ampliação, a lei passou a
englobar pessoas de qualquer nacionalidade acusadas de corrupção ou de violação
dos direitos humanos. O documento cita como exemplos execuções extrajudiciais,
prisões arbitrárias e tortura contra pessoas que denunciam atividades ilegais
cometidas por autoridades ou que lutam por liberdade de expressão e religiosa,
entre outras.
Também podem ser alvos
funcionários governamentais –ou associados– responsáveis por ordenar, controlar
ou direcionar atos de corrupção que envolvam expropriação de ativos privados,
suborno e enriquecimento próprio.
Além da revogação do visto, a lei
determina o bloqueio de todas as transações com propriedade nos EUA ou com
negócios de interesse no país. Também não pode ter qualquer vínculo comercial
com pessoas que morem nos EUA ou que estejam no país. Isso implica o bloqueio
de contas bancárias –inclusive em bancos brasileiros– e o cancelamento de
cartões de crédito de bandeira norte-americana.
A sanção também pode levar à
perda de propriedades no país e ao confisco de ativos em dólar mantidos dentro
ou fora dos Estados Unidos.
Empresas dos EUA ficam
responsáveis por monitorar o cumprimento das sanções sob o risco de o governo
estender as punições a elas. Com isso, outro impacto possível da lei é a
suspensão de perfis em sites, e-mails, redes sociais e sistemas de pagamento
das companhias.
Políticos repercutem sanções a
Alexandre de Moraes
O anúncio de sanções da Lei
Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de
Moraes repercutiu nas redes sociais de autoridades. Enquanto políticos ligados
ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saíram em defesa do magistrado, a
oposição celebrou a punição.
O governo dos Estados Unidos
aplicou punições ao magistrado brasileiro nesta quarta-feira, 30. A Lei
Magnitsky impõe sanções como proibição de entrada nos Estados Unidos e bloqueio
de bens no país.
O líder do governo Lula na
Câmara, José Guimarães (PT-CE), chamou as sanções de “conspiração da família
Bolsonaro contra o Brasil”. “Isso não é apenas uma afronta a um ministro do
Supremo – é um ataque direto à democracia brasileira e à nossa soberania nacional!”,
disse o petista.
No mesmo sentido, a
ministra-chefe da secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann
(PT-PR), chamou as sanções de “ato violento e arrogante”. “Mais um capítulo da
traição da família Bolsonaro ao País”, disse a ministra.
O deputado federal Lindbergh
Farias (PT-RJ) qualificou como “gravíssimo” o uso da Lei Magnitsky contra
Moraes. Para o petista, as sanções não se restringem ao ministro e são também
um “ataque ao Brasil”.
O ministro Wolney Queiroz, da
Previdência Social, manifestou “irrestrita solidariedade” a Moraes. Segundo
Queiroz, o magistrado está sendo “perseguido e atacado por uma potência
estrangeira por fazer o seu trabalho”.
A deputada federal Caroline de
Toni (PL-SC), ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara,
afirmou que a aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes “é a resposta
internacional aos abusos, à censura e à perseguição política que o Brasil vive”.
O deputado federal Nikolas
Ferreira (PL-MG) afirmou que as sanções contra Moraes representam “um marco”
nas denúncias contra “abusos de autoridade” no Brasil. Para o parlamentar, a
aplicação da Lei contra o ministro brasileiro é um ato “simbólico e contundente”.
Nos últimos dias, Nikolas vinha
sendo criticado por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por ser ”pouco ativo” na busca
por punições contra autoridades brasileiras.
O deputado estadual Gil Diniz
(PL-SP) celebrou o anúncio da Lei Magnitsky contra Moraes. Gil Diniz é aliado
de Eduardo Bolsonaro e já trabalhou no gabinete do filho “03” do ex-presidente.
Para Diniz, as sanções contra Moraes são “resultado direto” de um “trabalho
estratégico e silencioso” do brasileiro nos Estados Unidos.
A edição da Lei Magnitsky contra
Moraes ocorre após um semestre de atuação de Eduardo nos Estados Unidos. O
filho de Jair Bolsonaro é investigado no STF por buscar punições ao País e a
autoridades brasileiras como forma de coagir o processo penal contra seu pai,
réu por golpe de Estado.
O uso da Lei Magnitsky contra uma
autoridade de um país democrático é inédito. Até o momento, a norma só havia
sido aplicada contra violadores graves dos direitos humanos, como autoridades
de regimes ditatoriais, integrantes de grupos terroristas e criminosos ligados
a esquemas de lavagem de dinheiro e de assassinatos em série.
Fonte: Tribuna do Norte
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